Leila Diniz: os 50 anos da morte da atriz que desafiou conservadorismo e foi perseguida pela ditadura

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  • André Bernardo
  • Do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil

Crédito, Acervo Pessoal

Legenda da foto,

Proibida de trabalhar como atriz, Leila Diniz abriu uma butique

O cineasta Luiz Carlos Lacerda, de 76 anos, zarpava para um passeio de barco pelo litoral de Paraty, cidade histórica do litoral fluminense, quando, do cais, uma mulher acenou em sua direção. Curioso, resolveu voltar para o porto. Ela, então, contou que, infeliz no casamento, tinha acabado de assistir ao recém-lançado Leila Diniz (1987) e saiu da sessão decidida a dar um rumo à sua vida. “Ao chegar em casa, mandou o marido às favas. Deu um fim àquele casamento horroroso e, dali em diante, levou uma vida mais feliz”, recorda Bigode. “Quando decido rodar um filme, não penso no sucesso que vai fazer ou na grana que pode dar. O importante é o reconhecimento do público”.

Noutra ocasião, um rapaz lhe confidenciou que, depois de conhecer melhor a história de Leila Diniz (1945-1972), interpretada no cinema por Louise Cardoso, resolveu assumir sua homossexualidade para a família. “O mérito não é meu ou do filme. O mérito é todo da Leila!”, garante o diretor. “A história dela é muito forte. Foi uma revolucionária de costumes. Uma mulher que mudou o comportamento das mulheres. Grávida, dessacralizou a maternidade ao botar um biquíni e ir à praia, sem proteger a barriga com uma bata, como era costume. Mas, ela não queria levantar bandeiras ou chocar a sociedade. Fazia apenas o que achava que era o melhor para a vida dela”.

Leila e Bigode se conheceram em fevereiro de 1959, no bar Jangadeiro, em Ipanema, Zona Sul do Rio. E, logo, se tornaram grandes amigos. Tinham, aliás, a mesma idade: 14 anos. Trabalharam juntos, quase dez anos depois, em Fome de Amor (1968), de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018) — Leila como atriz e Bigode como assistente de direção. Dessa vez, não se desgrudaram mais. Voltaram a dividir o set em Azyllo Muito Louco (1969), também dirigido por Nelson, e em Mãos Vazias (1970), estreia de Bigode na direção.

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“Leila costumava dizer que tanto fazia interpretar William Shakespeare ou Glória Magadan. O importante era a patota”, explica Bigode que, no mesmo ano de lançamento do filme, publicou a biografia Leila Para Sempre Diniz (Record). “Era uma pessoa divertida, mas não era ‘porra-louca’. Pelo contrário. No set, era muito responsável. Podia passar a noite na farra. Mas, na manhã seguinte, tomava banho gelado e estava pronta para filmar, sempre com o texto decorado. Levava o trabalho muito a sério”.

Fonte Notícia: www.bbc.com

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