Os casais de celebridades que deixam o mundo obcecado
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- Christina Newland
- BBC Culture
No início de junho, uma foto de Jennifer Lopez e Ben Affleck se beijando em um restaurante de Malibu, na Califórnia, aparentemente confirmou o que muitos suspeitavam: que os dois estavam mais uma vez tendo um romance, 17 anos após terem se separado.
Desde que começaram as especulações sobre o reatamento do casal há mais de dois meses, depois que as duas estrelas do cinema recém-separadas foram vistas saindo juntas, uma efervescência delirante pareceu se espalhar como um incêndio pelas redes sociais.
Talvez, para a geração de millennials, esse júbilo se deva à nostalgia, uma lembrança dos dias em que folheavam revistas de fofoca, numa época em que tinham tempo e disposição para isso.
Ou quem sabe — depois de anos vendo as duas celebridades lidando com os caprichos da vida pública, incluindo papéis de sucesso, estatuetas do Oscar, tatuagem nas costas e uma série de relacionamentos de destaque para ambos — seja reconfortante ver que o amor pode, de alguma forma, dar o seu jeito.
Especialmente o tipo de amor peculiar de Hollywood que inspira um homem a beijar o traseiro da namorada para todo o mundo ver, como Affleck fez no videoclipe da música Jenny from the Block de 2002.
A partir do momento em que começaram a namorar naquele mesmo ano, os dois foram proclamados como um dos casais poderosos de Hollywood, com a personalidade “pé no chão” de Affleck, um típico cara de Boston, e o estilo super glamouroso de Lopez revelando um contraste inebriante, enquanto marcavam presença em incontáveis tapetes vermelhos.
Eles foram carinhosamente apelidados de “Bennifer”, e o caso de amor da imprensa com os dois parecia não ter fim, mesmo diante do fiasco de Contato de Risco (2003), comédia romântica estrelada pelo casal que é frequentemente classificada como um dos piores filmes de todos os tempos.
Mas, em 2004, os dois se separaram poucos dias antes da data planejada para o casamento e, no espaço de um ano, ambos estavam casados com outras pessoas —Affleck com a atriz Jennifer Garner, e Lopez, com o cantor Marc Anthony.
Agora, em 2021, o relacionamento deles está mais uma vez sob os holofotes, só que agora por meio de canais de rede social mais democráticos: recentemente, uma foto de Affleck saindo sorridente da casa de Lopez pela manhã virou imediatamente um meme.
Mas, afinal, o que há na volta de “Bennifer” que parece ter gerado tanto alarde entre o público em geral?
As razões do fascínio popular
É uma pergunta complexa com mais de uma resposta.
Em parte, a resposta não é exclusiva para Lopez e Affleck — casais de celebridades nos fascinam há muito tempo.
De Beyoncé e Jay-Z a Kim e Kanye (que recentemente se divorciaram) a Brad e Angelina (separados desde 2016), o glamour combinado de dois famosos pode parecer duas vezes mais cativante.
O último, assim como Lopez e Affleck, era especificamente um dos casais poderosos de Hollywood, adicionando outra camada de intriga para o público, que podia acompanhá-los não apenas pela cobertura da imprensa, mas também por meio de suas aparições em filmes juntos.
No caso de Lopez e Affleck, a parceria nas telas (pelo menos até agora) nunca foi o que chamaríamos de sucesso.
Mas pense na relação cinematográfica ao longo dos anos do casal na vida real Katharine Hepburn e Spencer Tracy, que protagonizaram clássicos da comédia romântica como A Mulher do Dia (1942) e A Costela de Adão (1949). A química deles no cinema os tornaram ainda mais adoráveis aos olhos do público.
Foi o que aconteceu também com Richard Burton e Elizabeth Taylor, que estrelaram 11 filmes juntos nos anos 1960 e 1970. Esta jornada começou com Cleópatra (1963), no set em que os dois se conheceram, mas a combinação de fervor sexual e volatilidade emocional pela qual eram conhecidos na vida real talvez seja melhor traduzida para o cinema no drama matrimonial Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966).
Nem sempre é necessário que os casais poderosos de Hollywood tenham uma química poderosa nas telas, mas, quando isso acontece, certamente ajuda a atiçar o imaginário popular.
Também pode ser que nosso fascínio por casais específicos de Hollywood se deva a nossas próprias ideias pré-concebidas sobre como a fama, a celebridade ou o romance heterossexual devem ser.
Se pedirem para você escolher seu casal “favorito” de Hollywood, a resposta pode revelar mais do que você pensa sobre seus ideais românticos, seu “eu” ideal e com o que você pode se identificar na história que esse casal famoso está contando ao mundo.
Os casais poderosos de Hollywood são formados pela junção de duas personalidades, estilos e bagagem pessoal distintas em uma construção de mídia amorfa — tão amorfa que até seus nomes se misturam em algo que soa bobo.
Alguns, como “Brangelina”, consistem em duas pessoas atraentes demais para serem reais, e a força combinada de sua química sexual (como vimos em Sr. & Sra. Smith, de 2005) é espantosa.
Os melhores têm qualidades complementares de yin yang: Lauren Bacall emprestou a Humphrey Bogart sensualidade e vigor juvenil, uma fluidez aveludada para sua conduta irregular.
Taylor era majestosa o suficiente para se adequar a um ator shakespeariano como Burton, mas a bela de classe alta foi criada muito distante das origens mais humildes do ator galês.
Embora casos, romances, aventuras e casamentos aconteçam em Hollywood como em qualquer outro lugar, o conceito dos casais poderosos foi uma criação, antes de mais nada, da máquina de publicidade da era dos grandes estúdios.
Essa máquina funcionava como uma extensão dos interesses de cada estúdio e protegia ferozmente a reputação e a imagem de seus atores contratados.
No século 20, isso também significava que a heterossexualidade era obrigatória — e isso continuou sendo o caso até bem recentemente.
Quando se tratava de atores LGBTQ +, os publicitários dos estúdios da era de ouro do cinema americano inventavam boatos românticos para revistas ou até mesmo enviavam estrelas em encontros forjados para despistar os colunistas de fofoca.
Rock Hudson, Montgomery Clift e outros “solteiros convictos”, como dizia o jargão codificado, costumavam aparecer acompanhados de estrelas nas estreias, tudo armado para os paparazzi.
Desta forma, os casais queer foram em grande parte apagados da equação de “casais poderosos” até, em grande parte, as últimas duas décadas.
Ellen DeGeneres e Portia de Rossi tiveram um casamento extravagante em 2008, com cobertura de todos os principais meios de comunicação de entretenimento, como qualquer casamento luxuoso de celebridades.
Neste ano, Jodie Foster e a esposa Alexandra Hedison ganharam as manchetes quando Foster recebeu o Globo de Ouro via Zoom ao lado da mulher e do cachorro — ambas usando pijamas adoráveis.
Mas a exclusão mais ampla de pessoas queer dessa forma de imaginário é em si bastante reveladora: aos olhos da mídia, a vida de casal extravagante parece ainda ser reservada para pessoas heterossexuais.
A história dos casais poderosos de Hollywood
O primeiro casal poderoso de Hollywood da história talvez não seja conhecido de muitos hoje: Mary Pickford, a atriz de cinema mudo conhecida como “queridinha da América”, e Douglas Fairbanks, o ator fanfarrão que interpretou o primeiro Robin Hood.
A suntuosa mansão do casal em Beverly Hills, que tinha desde um zoológico a um “saloon” no estilo do Velho Oeste, recebia visitantes como F. Scott Fitzgerald e Charlie Chaplin na década de 1920.
Mas tem outra coisa sobre a residência do casal que é realmente impressionante: décadas antes de “Bennifer” chegar à imprensa, a casa era chamada de “Pickfair”, uma combinação dos nomes do casal, Pickford e Fairbanks.
Cada passo do marido e da esposa era seguido pela imprensa nacional, ainda com os olhos arregalados com o conceito relativamente novo de casal de estrelas.
É claro que houve uma grande variedade de casais poderosos de Hollywood desde então.
Hábitos excêntricos, casos tumultuados ou mansões absurdas nunca afetam exatamente seu status na imprensa: tudo é válido, como parte da narrativa do casal de celebridades.
Crucialmente, é preciso mais do que apenas duas pessoas famosas para formar um desses pares. Ambas devem ser estrelas genuínas, que são ao mesmo tempo reconhecidas o suficiente por seus próprios méritos e tenham uma fama equivalente.
Nos anos 1940 e 1950, havia Ava Gardner, a pin-up sensual, e Frank Sinatra, o cantor que, como a mídia disse na época, ela “roubou” de sua esposa italiana, Nancy.
O caso Gardner-Sinatra e o casamento deles causaram um escândalo, mas o casal estaria para sempre associado a um certo tipo de glamour de meados do século.
Hoje, há Will Smith e Jada Pinkett Smith, que amadureceram e tiveram filhos diante dos olhos do público; quando Jada admitiu publicamente que havia sido infiel em uma conversa com o marido em um episódio de seu programa Red Table Talk, o desconforto na plateia era palpável.
Mas o casal parece ter resistido, brincando um com o outro no mesmo episódio, fazendo referência a um conhecido bordão da franquia Bad Boys, de Will: “casamento ruim é para a vida toda!”
Depois, houve casais mais efêmeros que ainda brilham no imaginário cultural: Anjelica Huston e Jack Nicholson eram os descolados da rebelião cinematográfica dos anos 1970, enquanto os bem vestidos Elliott Gould e Barbra Streisand, duas das estrelas judias mais proeminentes de Hollywood, também dominaram a década.
Esses eram o tipo de casal para cujos jantares você adoraria ser convidado.
Taylor e Burton eram tão apaixonados e, ao mesmo tempo, temperamentais que se divorciaram e se casaram novamente apenas 16 meses depois — só para se divorciarem pela segunda vez, oito meses mais tarde.
Taylor teve um total de sete maridos (oito se você contar Burton duas vezes). Alguns deles eram muito famosos na época, incluindo o ator Eddie Fisher. E, no entanto, nenhum deles parecia estar à altura de Burton aos olhos dela — desde o início de seu tórrido romance durante a produção de Cleópatra (1963), quando ambos ainda eram casados, com Fisher e a atriz Sybil Williams, respectivamente.
Seu amour fou e estilo de vida extravagante eram uma espécie de afrodisíaco para o público. Como Burton disse, “nosso amor é tão furioso que queimamos um ao outro”.
Ou talvez você prefira a estabilidade da adorável Goldie Hawn e do eterno galã Kurt Russell, que estão juntos há quase 40 anos e ainda parecem namorados adolescentes.
No fim das contas, o interesse do público nos casais poderosos de Hollywood — assim como a questão do que torna alguns mais poderosos do que outros — se deve a várias coisas.
Talvez seja algum desejo social pré-condicionado de ver outros humanos romanticamente juntos em pequenas unidades fofas, ou decorre de algum desejo sexual lascivo por uma ou ambas as pessoas.
Talvez — ok, definitivamente — sejamos apenas intrometidos.
Da Confidential Magazine, a audaciosa publicação de fofocas que foi levada ao tribunal em 1957 por seus rumores sobre todos — de Grace Kelly a Robert Mitchum —, até a atual conta Deuxmoi do Instagram, que publica conteúdo de fontes anônimas diretamente para seus quase um milhão de seguidores, a fofoca certamente não é um fenômeno novo.
O público não consegue se conter, mesmo sabendo que tudo é um pouco vulgar e indecente.
Quando se trata de casais poderosos de Hollywood, até mesmo a separação ou o divórcio oferecem algo para o público.
Na imprensa e entre os leitores, há ao mesmo tempo tristeza e um certo prazer perverso, do tipo: vejam só, afinal não são perfeitos.
O que é reconfortante na reação ao fato de Jennifer Lopez e Ben Affleck terem supostamente reatado é que ela nasce, talvez, de um impulso coletivo inverso: uma fé determinada e idealista na perspectiva de um amor duradouro, mesmo quando parece profundamente improvável depois de tantos anos de separação.
“Bennifer” deu o que falar no mundo todo não por causa de quem eles são, mas por causa de quem nós somos.
Para muitos millennials, sem dúvida, eles fazem a gente se sentir tão jovem e esperançoso como éramos em 2002. Não queremos todos um amor assim?
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