pequena nas urnas, gigante nas redes sociais

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Clique, curta e compartilhe: as redes sociais são a espinha dorsal da estratégia de campanha do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) desde 2013. E o alcance da legenda nessa área só aumentou desde então.

Nas redes alemãs, a política parece existir de forma invertida: partidos de massa no mundo off-line, como a União Democrata-Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, são nanicos. Já a AfD, que não participa de nenhum governo estadual e cuja bancada no Parlamento não tem poder para frear iniciativas governamentais, mantém uma influência desproporcional nas redes.

Em 2021, a apenas um mês das eleições federais de setembro e que vão decidir a sucessão de Merkel, a AfD aparece empacada com entre 10% e 11% das intenções de voto – percentual similar ao que o partido conquistou no pleito de 2017.

Mas quem olhar para plataformas como Facebook, Instagram e YouTube pode ter a impressão que o partido é muito maior.

Tamanho da AfD nas redes
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Analisando as estatísticas de perfis nas redes sociais de figuras da classe política alemã entre 12 e 15 de agosto, nota-se que Alice Weidel, vice-presidente do partido e colíder da bancada da AfD no Parlamento, é de longe a política alemã com mais interações online.

Mesmo que ela não tenha, de acordo com pesquisas, chance de se tornar a próxima chanceler federal, os vídeos de Weidel foram vistos 4,9 milhões de vezes nesse período de quatro dias. O número de comentários, curtidas e compartilhamentos supera qualquer coisa publicada por outros políticos.

Tal engajamento nas redes é precioso no mundo das redes, já que implica que os usuários se identificam tanto com o conteúdo a ponto de disseminá-lo ainda mais.

A AfD tem oficialmente 32 mil filiados na Alemanha. A tradicional CDU tem muito mais: 430 mil, com idade média de 59 anos, a mesma do candidato do partido à chancelaria, Armin Laschet, que espera ser o sucessor de Merkel.

Nas redes sociais, o desempenho de Laschet é pífio em comparação a Weidel, de 42 anos. Seu burocrático slogan de campanha “A proteção inteligente do clima é uma tarefa transversal” só mobilizou alguns poucos usuários, acumulando não mais do que algumas centenas de likes, compartilhamentos e comentários (muitas vezes com tom negativo) no Twitter e Facebook. No período entre 12 e 15 de agosto, os vídeos de Laschet acumularam apenas 320 mil visualizações.

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Facebook: a meca da AfD

Em entrevista à DW, Marcus Schmidt, assessor de imprensa do grupo parlamentar da AfD, admite: “Sem o Facebook, não acredito que a AfD pudesse ter se tornado um sucesso tão rapidamente.”

Usar o Facebook como um canal para seus apoiadores permite que a AfD contorne os meios de comunicação tradicionais e espalhe suas mensagens diretamente – mensagens muitas vezes abertamente racistas, nacionalistas e repletas de fake news.

O Facebook continua sendo a plataforma de engajamento mais importante da AfD. Cerca de 84% das interações de Alice Weidel nas redes sociais foram registradas nessa plataforma.

Fundada em 2013, como uma sigla majoritariamente eurocética moderada que contava com vários liberais, a AfD rapidamente se converteu de maneira veloz em um agrupamento ultranacionalista e anti-imigração entre 2014 e 2015. Como resultado, vários fundadores deixaram a sigla, afirmando que o partido havia se tornado um veículo “iliberal”, que se distanciou do seu propósito original.

Hoje, a AfD é um guarda-chuva para diferentes grupos de ultradireita, como ultraconservadores, fundamentalistas cristãos e ultranacionalistas. Muitos membros também são acusados regularmente de nutrir simpatias pelo nazismo.

Notícias falsas e desinformação têm sido parte integrante das campanhas da AfD desde o início. Às vezes, políticos da sigla lançam boatos de que Merkel furou seu período de quarentena (algo que ela não fez), em outras oportunidades, colocam falas na boca de adversários políticos.

O efeito bola de neve

A forma como as redes sociais funcionam garante que a AfD receba o máximo de atenção, de acordo com Felix Kartte, conselheiro da Reset Tech, uma organização sem fins lucrativos que defende a regulamentação das mídias sociais.

Emocionais, ousadas, radicais e vigorosas – são essas as postagens que atraem comentários, são compartilhadas e influenciam os algoritmos, explica Kartte.

“As plataformas oferecem aos comentários mais extremos uma vantagem sistêmica porque seus algoritmos e sistemas de recomendação são configurados para privilegiar esse tipo de conteúdo, já que ele é mais envolvente”, diz Kartte.

Isso faz com que opiniões controversas ou incendiárias acabem sendo super-representadas nas redes sociais. E os partidos populistas podem usar isso a seu favor, mesmo que tenham pouco apoio dos eleitores nas urnas.

E a produção de declarações ultrajantes que reverberam não só nas redes sociais como na imprensa tradicional é uma especialidade da AfD.

Em janeiro de 2017, Björn Höcke, deputado da AfD no parlamento estadual da Turíngia, chamou o Memorial do Holocausto em Berlim de “monumento da vergonha”.

Juan Carlos Medina Serrano, cientista político da Universidade de Munique que estuda a estratégia de mídia social da AfD há vários anos, afirma que a sigla é adepta de projetar conteúdo polarizador para se tornar viral: “Outros partidos não produzem esse tipo de conteúdo agressivo. Portanto, suas mensagens são menos compartilháveis.”

Moldado para se tornar viral

Medina Serrano vê semelhanças com o caso da AfD e o uso bem-sucedido das mídias sociais pelo ex-presidente americano Donald Trump – mas também uma diferença importante. Enquanto a campanha presidencial de Trump em 2016 usou uma grande quantidade de publicidade paga, a AfD depende de conteúdo orgânico.

A AfD também usa “uma narrativa de ‘não estamos tendo tempo suficiente na mídia, então nos apoie nas redes sociais’”, explica Medina Serrano. Essa narrativa ajuda o partido a se posicionar como um outsider antiestablishment e incentiva os eleitores em potencial a obter informações diretamente com a AfD.

Os seguidores também são repetidamente instados a compartilhar o conteúdo para aumentar o alcance do partido, prossegue Medina Serrano. Os políticos e funcionários do partido incentivam um “envolvimento constante com sua comunidade”, respondendo constantemente aos comentários dos usuários.

Por outro lado, Serrano também aponta que a AfD é adepta do uso de robôs.

Campanha do “Velho Oeste”

As empresas de mídia social têm algumas regras antidiscurso de ódio para suas plataformas, que chegaram a causar alguns problemas para a AfD no passado.

A deputada Beatrix von Storch, uma figura influente do partido, se tornou uma das primeiras a ser sancionadas por leis contra discurso de ódio nas redes sociais em janeiro de 2018, quando sua conta no Twitter chegou a ser bloqueada temporariamente por causa de um tuíte racista.

Recentemente, ela se encontrou com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, outra figura que ganhou projeção nacional graças a uma mistura de declarações ultrajantes e preconceituosas e uma atuação agressiva nas redes sociais – também suspeita de usar ferramentas irregulares de impulsionamento e robôs.

Tal como Bolsonaro, Von Storch vem divulgando mensagens contra o que chama de “censura” contra “conservadores” nas redes sociais pelas plataformas. Mas mesmo o caso da sanção contra Von Storch foi raro na Alemanha.

No mundo off-line, a Alemanha tem regras e restrições rígidas para a campanha eleitoral, como limitar o tempo que os outdoors da campanha podem ficar nas ruas ou restringir os horários dos anúncios da campanha na TV. Mas não há equivalente na campanha on-line, que permanece pouco regulamentada.

A campanha de mídia social é “basicamente o Velho Oeste”, destaca Felix Kartte, “E isso beneficia a AfD.”

Em vista da crescente importância das mídias sociais, uma aliança civil de associações e iniciativas da Alemanha está pedindo um comprometimento voluntário dos partidos políticos com campanhas eleitorais justas e transparentes na internet. Mensagens políticas pagas teriam que conter um aviso claro. E os comentários de ódio nas postagens devem ser excluídos pelos partidos.

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