Catarata: ‘Achei que ficaria cega, mas cirurgia no SUS devolveu minha visão’
- Giulia Granchi
- Da BBC News Brasil em São Paulo
Aos 80 anos, a mineira Ana de Oliveira já tinha “aceitado” que as alterações que vinha percebendo na visão eram sinal de que o tempo estava passando. Até que um dia chegou à conclusão de que tudo tinha ficado embaçado demais.
“Eu fechava e abria os olhos para conferir, e era como se visse as figuras ‘amolecendo’, não reconhecia nada. Fiquei assustada”, lembra.
Eram os efeitos da catarata, doença ocular que torna opaca a lente transparente que permite a entrada de raios de luz para a formação de imagem, que já estava em estágio avançado em seus olhos.
Preocupada com a tia, que não conseguia mais costurar nem cozinhar – suas atividades favoritas -, Viviane, sobrinha de dona Ana, procurou ajuda do SUS (Sistema Único de Saúde).
“Desde o primeiro processo até conseguirmos reverter o problema, ela foi piorando. Eu ia ao posto de saúde e até ligava para a prefeitura pedindo pra dar prioridade aos exames dela, que já estava quase perdendo a visão”, conta.
Quando dona Ana, que mora em Santa Luzia (MG), foi finalmente encaminhada para a cirurgia, uma espera de mais de um ano, ela estava quase cega.
“Embora seja reversível na maioria dos casos, se progride demais a catarata pode causar complicações que levam à cegueira”, explica o oftalmologista Tiago Cesar, que realizou a operação na aposentada, que hoje tem 82 anos.
O último levantamento feito pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), em 2019, mostra que a catarata responde por 49% da cegueira no país, embora o número de cirurgias tenha dobrado entre 2009 e 2019. A pesquisa também mostra que 74,8% das pessoas cegas no Brasil poderiam ter curado ou prevenido a condição se tivessem recebido tratamento apropriado a tempo.
Entre 2019 e 2021, somando todas as regiões do Brasil, houve uma queda de 35% nos principais exames para detecção de catarata, mostram dados do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia). De acordo com Cristiano Caixeta, oftalmologista e presidente do Conselho, a queda era esperada, já que a doença, apesar de progressiva, costuma ser reversível.
“Como a maioria dos pacientes com o quadro é idoso, não valia o risco de expô-los ao risco apresentado pela pandemia. Em 2021, começamos a voltar à normalidade na taxa de exames.”
“Quando o médico me disse que eu poderia ficar cega, me desesperei. Já tenho problema na coluna e no joelho, ando de bengala, então, sem visão, eu faria o quê?”, diz ela.
Dona Ana conseguiu, com a cirurgia em um olho de cada vez, recuperar completamente a visão.
“Foi um alívio. Cheguei a achar que ficaria cega, mas consegui a cirurgia pelo SUS e não paguei nada. Voltei para casa e fiquei vendo as coisas, olhando para os cantinhos que estavam sujos e antes eu não enxergava. O médico só me pediu uns dias longe do fogão, e eu fiquei.”
Diagnóstico e tratamento da catarata
Os sinais encontrados no exame oftalmológico de rotina são perda da percepção visual e alteração da transparência do cristalino.
De acordo com Tiago Cesar, professor de cirurgia oftalmológica na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, a cirurgia para a correção da catarata, único tratamento possível para doença, é complexa do ponto de vista técnico, mas simples para o paciente.
Com um bisturi, o cirurgião faz pequenas incisões na córnea, a primeira estrutura do globo ocular. Depois, com uma espécie de caneta bem fina, através de um equipamento ultrassônico, ele faz a remoção do cristalino, “lente natural” dos olhos e parte na qual a doença está presente. Por fim, coloca-se uma lente intraocular no mesmo local.
“A pessoa dorme e a equipe médica, formada por cirurgião, anestesista, instrumentador e enfermeiro realiza o procedimento em um tempo de 20 a 30 minutos. A recuperação é rápida e os pacientes não costumam ter queixas de dor no pós-operatório. Não tem pontos ou suturas e já no primeiro dia a pessoa sente uma melhora significativa.”
“Quando a gente tira o tampão, geralmente a pessoa chora. É reabilitar um dos principais sentidos, ainda mais para um idoso que já perdeu outras funções do corpo. É comum, inclusive, antes do tratamento, que esses pacientes desenvolvam depressão associada”, conta o médico.
As causas da catarata não estão bem definidas, mas estudos epidemiológicos associam à idade. Não é possível prevenir a catarata com uma única ação ou tratamento específico. Além de influência genética, há fatores ambientais que podem contribuir com o aparecimento do quadro, como exposição a luz solar excessiva sem proteção, má alimentação e tabagismo.
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Fonte Notícia: www.bbc.com